segunda-feira, setembro 25, 2006

Soneto a quatro mãos

Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.
Tenho dado de amor mais que coubesse

Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.
Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.


Vinicius de Morais

Etiquetas:

domingo, setembro 17, 2006

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

(foi mantida a grafia original)
Eugénio de Andrade

Etiquetas:

quinta-feira, setembro 14, 2006

Horizontes

Foto por Carlos


Olhar pousado sobre o horizonte
Longínquo
Vejo um futuro sonhado
Acarinhado em contínuo
Num passado recente,
Distante...

Ajusto a lente da alma,
Focada sobre o futuro...
Uma névoa indistinta
Esbate os limites do espaço,
E do tempo...

A objectiva subjectiva
Um tropel de sentimentos
Numa proximidade distante,
Quente, e apática,
Calejante...

Foco a visão no tempo
Que corre injusto ante o olhar
Paciente e
Inquieto no espaço imenso
Que de vazio invade...

Os horizontes esbatidos
No tempo corrido
Caldeiam o futuro
E embotam a alma.
Quem me dera ver...
Quem me dera não ver...
Para sempre ser...
Muito, pouco, tudo, ou nada.

Etiquetas: ,

segunda-feira, setembro 11, 2006

iGUAL oU pIOR

... aCABO DE SAIR DE MAIS UMA CONSULTA..., DIRIJO-ME AO BAR PARA UM ALMOÇO APRESSADO... SÃO 14H38M...
eSTRANHO O AMBIENTE, SILENCIOSO E DE ESPANTO, DO GRUPO DE ESTUDANTES QUE COSTUMA VIR ESTUDAR PARA AQUI,... OLHOS VIDRADOS NA TELEVISÃO PENDURADA NO TECTO AO CANTO DA SALA...
dIRIJO-ME AO EMPREGADO DE BALCÃO:
- o QUE ACONTECEU? pORQUE ESTÃO TODOS A OLHAR PARA A TELEVISÃO? o QUE É AQUILO A ARDER?
- hOUVE UM ATENTADO EM nOVA iORQUE!! - dIZ O HOMEM INCRÉDULO, SEM TIRAR OS OLHOS DO PEQUENO ECRÃ - CHOCARAM DOIS AVIÕES CONTRA AS tWIN tOWERS!!
- qUANDO?
- aGORA, AGORINHA MESMO!!

sINTO O SANGUE A FERVER NAS VEIAS... TENHO AMIGOS LÁ, EM nOVA iORQUE... sERÁ QUE ESTÃO BEM? eSTARIAM LÁ PERTO?
iNVADE-ME UM PÂNICO INCONTROLÁVEL E TELEFONO... NINGUÉM ATENDE DE nOVA iORQUE...

sUBITAMENTE UM CLAMOR INVADE A SALA...
oLHO O ECRÃ, QUE ME PARECE MINÚSCULO E VEJO A PRIMEIRA TORRE A DESABAR... POUCO DEPOIS... A SEGUNDA...
e O BURBURINHO TRANSFORMA-SE EM VOZES DE RAIVA CONTRA OS RESPONSÁVEIS, QUE JÁ SE NOMEAVAM, POR TREMENDO INCIDENTE...

qUE TERROR!! aQUELA GENTE ATIROU-SE DOS PRÉDIOS CÁ PARA BAIXO, COMO SE PUDESSEM DE REPENTE VOAR... PARECEM FOLHAS DE PAPEL AO VENTO... MAS SÃO PESSOAS!!!

pÁRO UNS SEGUNDOS PARA PENSAR... VOU LIGAR PARA CASA DAS FAMÍLIAS DELES... aLGUÉM A ATENDE O TELEFONE, MAS AS NOTÍCIAS NÃO ME TRANQUILIZAM... AINDA NÃO CONSEGUIRAM CONTACTAR, AS LINHAS ESTÃO SOBRECARREGADAS...
mAIS TARDE AS NOTÍCIAS SÃO TRANQUILIZADORAS - UM TEMPO QUE PARECE UMA ETERNIDADE - PELO MENOS OS MEUS AMIGOS ESTÃO BEM!!... MAS JÁ SE SABE QUE MORRERAM MILHARES!!!

mILHARES DE PESSOAS QUE SAIRAM DE MANHÃ PARA MAIS UM DIA DAS SUAS VIDAS... pARA UNS, MUITOS, TERMINOU ALI O FUTURO... pARA OUTROS, FICOU PARA SEMPRE ALTERADO, MARCADO PELA aNGÚSTIA E PELA cULPA DE TER sOBREVIVIDO AO iMPOSSÍVEL... uM SENTIMENTO DE PROFUNDA iNJUSTIÇA... E DE iMPOTÊNCIA...

5 aNOS dEPOIS...

Depois de muitos outros mortos, numa guerra em busca de culpados... continuamos inseguros, dominados pelo medo de mais um ataque terrorista, que pode acontecer a qualquer momento...
Mas continuamos a viver, a seguir em frente... quase indiferentes a esta luta de poder pelo domínio do mundo... parece um desenho animado... uma história de quadradinhos com super-heróis... os Super-homens... e os Lex Luthors...
Há que manter os shares de vendas e apimentar a história de vez em quando!

Liberdade de escolha, de expressão... tolerância ideológica...
E ACIMA DE TUDO...

RESPEITO PELA VIDA HUMANA

Aqui, na terra, nesta vida, que é a única que temos e que reconhecemos como tal... tudo o resto são crenças, que valem por isso mesmo, mas que não devem valer acima de si próprias e do Bom Senso.

Etiquetas:

quinta-feira, setembro 07, 2006

Fado do Encontro

Vou andando, cantando
Tenho o sol à minha frente
Tão quente, brilhante
Sinto o fogo à flor da pele
Tão quente, beijando
Como se fosses tu

Ao longe, distante
Fica o mar no horizonte
É nele, por certo
Onde a tua alma se esconde
Carente, esperando
Esse mar és tu

Pode a noite ter outra cor
Pode o vento ser mais frio
Pode a lua subir no céu
Eu já vou descendo o rio...

Na foz, revolta
Fecho os olhos, penso em ti
Tão perto, que desperto
Há uma alma à minha frente
Tão quente, beijando
Por certo que és tu

Pode a lua subir no céu
E as nuvens a noite toldar
Pode o escuro ser como breu
Acabei por te encontrar

Vou andando, cantando
Tive o sol à minha frente
Tão quente, brilhando
Que a saudade me deixou
Para sempre,
Por certo
O meu Amor és tu.

Tim


Dueto por Tim e Mariza
Piano de Mário Laginha.

Etiquetas:

Solar X-rays:

Geomagnetic Field:
Status
Status
 
From n3kl.org
Number of online users in last 3 minutes